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sábado, 4 de dezembro de 2010

TRAFICANTES E MAFIOSOS - Marcos Rolim

TRAFICANTES E MAFIOSOS Imprimir E-mail
04 de dezembro de 2010
Marcos Rolim
Jornalista
marcos@rolim.com.br

Não é admissível que grupos armados dominem territórios como ocorre há décadas no Rio. Por isso, recuperar para o império da lei comunidades assoladas pelo terror é tarefa civilizatória. Reside aí a importância da ofensiva desencadeada na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Penso, entretanto, que é preciso afastar o delírio triunfalista que anestesia o País desde que a ocupação de favelas com uso de blindados foi comparada ao desembarque dos aliados na Normandia.
Carlos Resa Nestares, da Universidade Complutense de Madrid, diferencia dois tipos de estruturas criminais: aquelas que vendem drogas e aquelas que produzem inteligência e proteção para qualquer comércio ilícito, inclusive com drogas. As primeiras formam grupos de traficantes, as outras formam máfias. No Rio de Janeiro, as facções do tráfico são o “Comando Vermelho”, o “Terceiro Comando”, o “Terceiro Comando Puro” e a “Amigos dos Amigos”. As máfias são as “milícias”, formadas por bandidos que trabalham nas polícias. As milícias já controlam áreas maiores que as facções. Ali, monopolizam a oferta de serviços ilegais, da venda de terras públicas e gás, ao transporte clandestino e à instalação de TV a cabo (a famosa “Netcat”). Quando conveniente, os milicianos alugam regiões para o tráfico (com a mesma naturalidade, alugam “caveirões” para as facções); quando não, deslocam os traficantes, assumindo a venda de drogas diretamente. As milícias – que já elegem candidatos ao parlamento - são, de longe, o mais grave problema de segurança pública no Rio.

Por isso, a polarização pressuposta nas coberturas jornalísticas entre “polícia” e “traficantes” não existe no RJ. Traficantes mantém bases territoriais e pontos fixos de venda porque compram proteção dos segmentos criminosos das polícias. Tudo funciona como em uma S/A de capital fechado. Boa parte das armas do tráfico é fornecida por policiais que, assim, colocam em risco a vida de todos, sobretudo a vida dos policiais honestos, aqueles que – apesar dos baixos salários- honram sua missão e nos protegem. Estes estão fora da “sociedade” e, por isso, correm riscos extras em suas corporações.

Os atentados com queima de ônibus e carros não foram uma “reação às UPPs” como o governo afirmou. Versão que - como de costume quando o tema é segurança - foi assumida sem perguntas pela mídia. Em breve saberemos os verdadeiros motivos e, então, haverá perplexidade. Mas o mais importante é compreender –como o demonstra a experiência mundial – que, em uma democracia, não é possível derrotar o tráfico de drogas com a “guerra”. Devemos impedir a existência da modalidade (já em declínio) do tráfico com domínio territorial e grupos armados. Mas quando alcançarmos isto o tráfico terá encontrado formas mais ágeis e baratas para abastecer o mercado. Para derrotá-lo será necessária uma política pública de redução de danos que permita segmentar o mercado com experiências progressivas de legalização das drogas. A opinião pública no Brasil, entretanto, por desinformação e preconceito, não está disposta sequer a fazer este debate. Os traficantes e seus sócios, é claro, agradecem.

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