Pesquisar este blog

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Na manhã delirando (parte 3)


Na manhã de hoje, ao chegar na facul para a aula da madrugada (7:30 neste horário de verão) uma aluna me apresentou um atestado dizendo que havia perdido algumas aulas pois sua filha de 9 anos estava em depressão e que estava tendo que acompanhá-la diariamente a escola.
Então vamos refletir.
Temos crianças hoje, claro que sem dados estatísticos, mas ilações, que ao entrar na escola e ter contato com o outro, bem claro de quem seja o outro neste ponto, apresentam síndromes de depressão, de pânico, de ansiedade, pois não estavam preparados para conhecer um mundo real, em que a imagem sem cheiro e controlada pelo controle-remoto se torna uma imagem com cheiro, sensação e sem controle que possa cessá-la no momento ou que possa controlá-la para que não ocorra.
Mas nós acreditamos, seguindo uma visão moderna, que teríamos como ter previsto e que estes fatos não iriam atingir os nossos filhos, pois as variáveis estavam controladas e bem calibradas em nossos equipamentos, mas o século XXI chegou e com ele tudo que deixamos do lado de fora agora está dentro de nós e não temos controles para isto, especialmente pelo fato de que não sabemos se vivemos em nós, para nós, por nós, pelo outro ou para o outro...
A hyperexposição “virtual” que vivemos hoje é necessária e a nós pertence. Necessitamos criar mais e mais redes de relacionamento para sermos nós, para sermos reconhecidos como um ser existente e real, mesmo que em um mundo virtual. Somos Alexandre e Bruna com registro de nascimento “x”, mas somos AlexandreW e BrunaS do facebook, por exemplo, que possui todas as qualidades que na vida real estão longe de ser alcançadas, mas que está a um clique da vida virtual que vivemos.
Na loucura, vivemos hoje um mundo real (se é que vivemos, pois a grande maioria deixa viver, -passa), mas ao mesmo tempo vários mundos paralelos, mundos de redes de relacionamentos todas centradas no eu, mas em cada uma, o eu de uma forma com a qual desejamos que o eu fosse (sem se preocupar com as crises que vivemos, sem tratamentos, sem remédios, somos o nosso próprio imaginário inconsciente) , pois é um mundo que as mudanças são imediatas, como assim quer a nossa geração de ansiosos que não suportam esperar o ponteiro do relógio dar uma volta completa.
Esperar, aguardar, ter o tempo como um aliado ao amadurecimento, desapareceu, pois há uma necessidade de concentração, do tempo alongado a um único ponto, o do imediatismo instantâneo - devemos chegar a nosso culme o mais rápido possível.- (Quanto tempo era necessário para ler o que se imaginava ser o mínimo para tentar ser um dr.? Quem era dr. antes de muita estrada percorrida? Hoje a estrada é vencida pelo hiperlink, basta clicar). Aguardar até o próximo aniversário é demasiado longo para esta geração em que a plasticidade dos sentidos não permite com que se viva em um mundo tridimensional, enquanto que outros sequer tem a possibilidade de imaginar como é viver em um mundo que a “locomoção” é permitida, pois para eles, só se permite ser enquanto ficados ao seu reduto para o qual lhe foi permitido viver.
Mas se vivemos em um mundo virtual, a maior oparet do tempo, poor qual motivo temos medo e pavor, acreditando que o mundo é inseguro? Seria a mídia a culpada? A mídia é sim um, mas não único, fator responsável por esta síndrome da pavor, medo e insegurança a que estamos submersos e que não nos permite avistar terra firme dou outro lado desta ponte interminável da modernidade. Para nós que somos ligados e conectados na rede, recebendo bilhões de informações por segundo, nada nos resta senão olhar embasbacados e sem reação, pois qualquer reação, por mais rápida que o seja, será, impreterivelmente lenta, atacando, se é possível, somente um fato passado, i.e, sequer este texto que agora (presente) escrevo, quando for lido, o será de algo passado e que por mais inteligente ou capaz que sejamos, não poderá ser conhecido na sua integralidade, pois a realidade presente vai modificando-se momento após momento de sua existência, uma vez que já não está mais em minha mente, mas sim publicada no blog e introjetada, através dos sentido de que estiver lendo este texto. Assim, cada um fará sua interpretação única do que se esconde por detrás destas linhas, mas esta interpretação, inconscientemente, não é nada mais que uma releitura fundada em significados pré-conhecidos do leitor.
Lembra muito bem Kerckhove em “A pele da Cultura: Uma investigação sobre a nova realidade eletrônica, p. 67” que “o grande problema da realidade é ser demasiada e estar sempre a mudar, sempre a modificar-se quando tentamos agarrar”. Mas há uma outra realidade enquadrada pela perspectiva, pois através dela a moldura cerebral manipula as coordenadas espaço-temporais, fazendo-a parar. Assim, o objeto antes móvel e mutável, agora está estanque, fazendo-nos acreditar que agora podemos dominá-lo e analisá-lo no tempo.
Ocorre que o mundo virtual, preenche o nanoespaço de nosso ser com significados pré-estabelecidos, de forma com que ao avistarmos ou recebermos a informação, mesmo que conscientemente queiramos nos manter neutros, inconscientemente aplicamos cargas e pesos pré-estabelecidos para interpretar a mensagem, assim, nos vemos, diariamente, repetindo os mesmos argumentos que para nós foram aplicados, entrando, assim, em uma argumentação justificadora circular, que o final indica o começo, pois o começo indica o final, levando-nos a uma crise (qualquer crise.....)
Eis então mais questionamentos importantes: do que temos medo? O que é o medo? É possível capturar o medo? Seria o medo a sombra de nosso inconsciente coletivo? Não seria o medo criado, o incitador de uma violência como resposta ao medo, de forma a reestabelecer uma nova violência como resposta a este medo? Por qual motivo continuamos a aplicar o mesmo remédio que a cinco séculos não se mostra eficaz? Seríamos nós fantoches de turistas, de verdadeiros turistas que possuem a capacidade ($$) de controlar falsos turistas e vagabundos, pois nesta sociedade do risco, os riscos já foram pensados, mas o lucro compensa correr o risco
Não sei como elucidar quais os fatores da crise, do medo, da insegurança, do risco, mas sim trazer a lume aspectos visíveis e invisíveis desta sociedade submersa em um campo magnético que controla a livre movimentação das pequenas partículas humanas.
Por outro lado, não se está aqui a declarar que somos uma sociedade determinada, em que os homens são determinados em seu destino, mas sim vivemos em uma sociedade determinante, onde quem controla detém parte das variáveis deste controle, mas que por não ter o todo, no mais das vezes, acorda em uma dimensão que não a planeja ou queira, mas que estava no risco oculto.
Quem sabe devemos correr o risco de discutir tal isto, pois podemos dar a sorte de encontrar o interruptor que acende a luz, fazendo com que os sonhos belos desta criança voltem e ela possa dormir tranquila....

Um comentário: